Com águas de até 250 mil anos, aquífero Guarani é relevante no abastecimento de cidades
Diante de crises hídricas cada vez mais frequentes em São Paulo, o aquífero tornou-se importante no abastecimento público.
A forte estiagem que atingiu o Estado de São Paulo em 2021 baixou os níveis de rios e reservatórios, forçando várias cidades a restringir a oferta de água. Mas os efeitos da seca não foram sentidos por todos: municípios abastecidos exclusivamente pelo aquífero Guarani, uma das maiores reservas de água doce do mundo, não impuseram racionamentos.
São José do Rio Preto é uma das cidades paulistas onde essas águas antiquíssimas, também conhecidas como “águas fósseis“, jorram nas torneiras. Mas há vários outros poços no Estado que operam em condições semelhantes, extraindo águas a mais de um quilômetro de profundidade, diz à BBC Ricardo Hirata, diretor do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas da Universidade de São Paulo (Cepas-USP). Como não há cobrança pelo uso de fontes subterrâneas no Brasil, não só prefeituras
têm recorrido às águas subterrâneas, mas também entidades privadas como indústrias, fazendas e condomínios residenciais.
Uma grande vantagem dos aquíferos em relação às fontes superficiais é sua capacidade de armazenar um grande volume de água inclusive na estiagem, quando outras fontes se exaurem. Porém há um problema: a contaminação. Um relatório de 2020 da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo) revela que 23,9% das amostras coletadas no Aquífero Guarani apresentaram índices acima dos parâmetros para itens como alumínio, bário, selênio e coliformes.
Ricardo Hirata
Uso de água subterrânea na agricultura
Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE, de 2017, 1,03 milhão de propriedades rurais dispõem de pelo menos um poço tubular. O uso exacerbado de aquíferos para a irrigação é um tema de grande preocupação em países desenvolvidos. Não sabemos nada praticamente sobre a contaminação de aquíferos pela atividade agrícola no Brasil.
Há cerca de 2,5 milhões de poços tubulares em todo o país. Juntos, eles bombeiam mais de 557 metros cúbicos de água por segundo – vazão suficiente para abastecer toda a população brasileira.
Só 10% dos poços tubulares em operação no país são cadastrados – o que não significa que todos esses estejam regularizados. Para que operem legalmente, é necessário uma outorga dos órgãos públicos que gerenciam as águas subterrâneas, mas só uma pequena parcela dos usuários cumpre essa etapa.
A Cetesb estima que haja entre 3 mil e 4 mil pontos de contaminação de aquíferos. Só uma ínfima porção do aquífero é monitorada, o número de áreas contaminadas é provavelmente muito maior do que apontam os dados oficiais da Cetesb.
Mudanças climáticas
Embora ainda haja muito a avançar no monitoramento do Guarani e das demais águas subterrâneas no Brasil, Hirata diz que essas reservas podem ser muito úteis num cenário de grande irregularidade na oferta hídrica no país.
Para ele, tomando os cuidados para evitar a contaminação e exploração exagerada, “as águas subterrâneas podem ser a solução para muitos problemas sociais, permitindo a oferta de água de baixo custo e excelente qualidade”.
Hirata cita ainda a possibilidade – já adotada em alguns países – de injetar nos aquíferos sobras de água de rios e represas nos períodos chuvosos, acelerando a recarga das reservas subterrâneas e deixando os sistemas mais equilibrados.
Fonte: Época/Negócios