Como mudar nossa relação com o plástico
Um tratado pelo futuro: colaboração global e economia circular.
Onipresente em nossas vidas, o plástico se tornou um vilão ambiental. Embora tenha surgido como uma grande inovação da indústria química sintética em meados do século XX, este material altamente versátil hoje responde por uma poluição massiva. Mas, se desejar, o mundo pode mudar essa história: em dezembro, ocorre a última rodada de negociações para o Tratado Global sobre Plásticos, na cidade de Busan, na Coreia do Sul.
O problema não é o plástico, o problema é o modelo linear no qual ele é usado. Hoje, o plástico entra no sistema e vai parar no ambiente. A solução é criar regras globais para que ele permaneça na economia, fora do ambiente. – Luisa Santiago, Diretora Executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur
Tratado da ONU contra a poluição plástica, em fase final de negociação, pode instaurar um novo modelo de produção e consumo e como aprender com a resistência dos povos indígenas à cultura do descartável.
Se aprovado, ele pode ser um marco na luta pela proteção do meio ambiente e das pessoas, tendo em vista que as micropartículas também se tornaram uma ameaça à saúde humana e de outros animais. Desde 2022, os países têm trabalhado para estabelecer um acordo vinculativo que possa reduzir drasticamente a poluição nos oceanos, que atualmente supera 10 milhões de toneladas anuais.
Com a previsão de que, até 2050, haverá mais plástico do que peixes nos mares, a hora de agir é agora.
O tratado pode transformar a gestão do plástico, impulsionar uma economia mais circular, gerar inovações e proteger a natureza. E mais: como, coletivamente, podemos aprender com a cosmovisão dos povos indígenas a nos relacionar de forma mais “circular” com o Planeta, menos baseada na lógica predominante de produção, consumo e descarte.
A solução proposta não passa apenas pela reciclagem ou pela gestão de resíduos, mas sim por uma mudança de paradigma que envolva o design do produto desde o início. A ideia é promover um sistema circular, onde o plástico seja mantido dentro da economia, podendo ser reutilizado, reciclado ou compostado. Essa mudança precisa ser apoiada por políticas públicas globais, como um tratado internacional juridicamente vinculativo, que obrigue os países a adotar medidas que vão desde a redução da produção de plásticos desnecessários até a criação de modelos de negócios mais sustentáveis.
Sabedoria indígena
We’e’ena Tikuna, influenciadora, ativista e empreendedora indígena trouxe uma perspectiva valiosa, a partir da cosmovisão indígena, sobre como os povos originários já adotam práticas circulares há séculos, utilizando materiais naturais que se biodegradam e voltam para a terra. Até os 12 anos, por exemplo, ela não tinha uma conexão com a questão do plástico, pois em sua infância e na sua cultura indígena, o uso deste material era praticamente inexistente.
Essa visão de ciclo natural e respeito pela natureza contrasta com a introdução do plástico, que ela conheceu somente quando foi para a cidade, momento a partir do qual passou a observar os impactos ambientais negativos do material, especialmente como ele afeta os animais e o meio ambiente.
We’e’ena critica a “visão egoísta” que muitas vezes predomina nas grandes cidades, onde o foco está no consumo imediato, sem pensar no legado deixado para as gerações futuras. A conexão com a natureza e a preocupação com as próximas gerações, segundo ela, são princípios fundamentais para os povos indígenas, que têm uma relação mais harmoniosa e respeitosa com o meio ambiente.
Pressão social
A mudança não pode recair sobre os consumidores individuais, mas são eles que devem pressionar os governos e as empresas a adotarem políticas públicas e práticas empresariais mais sustentáveis. O verdadeiro poder de transformação deve ser coletivo e exigir uma ação coordenada de todos os atores da sociedade, incluindo governos, indústrias e cidadãos.
A solução efetiva passa por mudanças estruturais no sistema de produção e consumo. O sistema atual está errado e precisa ser redesenhado.
Fonte: Um Só Planeta