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Cidades-esponja

Adotar cidades-esponja ao invés de barragens é solução para conter enchentes.

O arquiteto chinês Kongjian Yu diz que é preciso parar de “lutar contra a água” e investir em soluções duradouras e baseadas na natureza. Estas são as estratégias que devem ser adotadas pelas cidades para evitar ou mitigar tragédias como a que ocorreu no Rio do Grande Sul. As soluções tradicionais baseadas em barragens de cimento e tubulações impermeáveis já se mostraram incapazes de acompanhar os efeitos das mudanças climáticas, já que as chuvas são cada vez mais intensas e o nível da água de rios e mares não para de subir.

Citações de Kongjian Yu – Faculdade de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim:

Temos uma escolha a fazer: investir em grandes barragens e diques que estão fadados a fracassar ou apostar em algo que é duradouro, sustentável e ainda bonito e produtivo. Funciona em qualquer lugar. As cidades-esponja são uma solução para climas extremos, onde quer que eles estejam. E o Brasil pode se dar muito bem com elas, porque tem muitas áreas naturais, o que dá mais espaço para a água escoar.

Temos uma escolha a fazer: investir em grandes barragens e diques que estão fadados a fracassar ou apostar em algo que é duradouro, sustentável e ainda bonito e produtivo.

Em vez de construir barragens e ir acumulando a água em áreas de cimento, precisamos nos adaptar à água, deixa a cidade lidar com a água de forma saudável.

A natureza se adapta. O conceito de cidade-esponja é baseado no princípio de que a natureza regula a água. Não é apenas a natureza em si. Sistemas feitos pelo homem devem ser certamente usados, mas a natureza deve ser dominante.

Temos que aprender com a aquacultura como fazer essa terra fértil, quais culturas podem sobreviver e usar essas áreas para isso. O arroz é um exemplo de uma plantação que pode funcionar.

Não estou dizendo que vamos solucionar o problema completamente dessa forma, mas vamos certamente mitigar as consequências.

Além de impedir inundações, o modelo é útil durante os períodos de seca, pois a água armazenada pode ser utilizada para irrigação e para manter as árvores e as plantas da cidade em boas condições.

Contudo, para que tenha sucesso, o conceito deve se basear em três grandes estratégias.

Contenção da água

O primeiro princípio adotado nos projetos do chinês é reter a água assim que ela toca o solo. Segundo Yu, isso pode ser alcançado por meio de grandes áreas permeáveis e porosas, não pavimentadas.

Da mesma forma que uma esponja com muitos orifícios, a cidade deve conter a chuva com lagos artificiais e áreas de açude alimentados naturalmente ou por canos que ajudam a escoar a água de rios e represas.

Telhados e fachadas verdes, assim como valas com áreas verdes com camadas de solo permeáveis ​​por baixo também são usadas para esse propósito.

Kongjian Yu explica que, em áreas cultiváveis, reservar 20% do terreno para operar como um sistema de açude é suficiente para impedir que o restante do lote seja inundado. Essa área pode ainda ser adaptada para colheitas resistentes à umidade e para posteriormente abastecer o restante das plantações em épocas de seca.

Apesar de ser algo recente, a base teórica na qual as cidades-esponja resgata as antigas tradições chinesas da agricultura e da gestão da água.

Redução da velocidade

Em seguida, o arquiteto aconselha pensar no manejo da água coletada. Isto é, desacelerar o fluxo d’água.

O rio Wujiang em Zhejiang

Em vez de tentar canalizar a água rapidamente para longe em linhas retas, rios tortuosos com vegetação ou várzeas reduzem a velocidade da água.

Eles oferecem mais um benefício, que é a criação de áreas verdes, parques e habitats para animais, purificando a água escoada na superfície com plantas que removem toxinas poluentes e nutrientes.

Mas as plantas, troncos e salgueiros ao longo do córrego reduziram a velocidade do fluxo do rio, permitindo que ele se agarrasse à vegetação e saísse das águas.

As técnicas usadas pelo arquiteto em seus projetos atuam da mesma forma que a vegetação no córrego na fazenda de Yu, desacelerando a água.

Escoamento e absorção

A terceira estratégia é adaptar as cidades para que elas tenham áreas alagáveis, para onde a água possa escorrer sem causar destruição.

Zhejiang

A principal forma de fazer isso é criar grandes estruturas naturais alagáveis para que a água possa ser contida por um tempo e, depois, absorvida pelo lençol freático. Essas áreas alagáveis permaneçam desocupadas, evitando-se construções nas áreas baixas.

Algumas cidades usam “jardins de chuva” que armazenam o excesso de chuva em tanques subterrâneos e túneis. A água só é descartada nos rios depois que os níveis diminuem.

Plantas que absorvem água também podem ser usadas para dar conta do alto volume de chuvas.

Ainda na visão de Yu, além de parques adaptados e áreas cultiváveis capazes de absorver mais água, lagoas e pântanos podem coexistir com rodovias e arranha-céus.

Solução mágica?

Em todo o mundo, cada vez mais lugares estão enfrentando dificuldades com o aumento das chuvas, um fenômeno que os cientistas relacionam às mudanças climáticas.

Parque Fuxi Cultural em Zhoukou, China

À medida que as temperaturas se elevam com o aquecimento global, cada vez mais umidade evapora na atmosfera, causando chuvas mais fortes.

E os cientistas afirmam que essa situação só irá piorar. No futuro, as chuvas serão mais intensas que o normal.

Com tempestades cada vez mais fortes, especialistas questionam se as cidades-esponja serão capazes de conter inundações. As iniciativas-piloto tiveram um efeito positivo, com projetos de baixo impacto, como telhados verdes e jardins de chuva, desacelerando o escoamento.

Mas Yu insiste que a sabedoria da China antiga não pode estar errada e essas falhas são causadas pela execução inadequada ou fragmentada da sua ideia pelas autoridades locais.

Fonte: BBC News – Brasil