Além das chuvas, a educação também é um desastre
Desastres socioambientais no Brasil precisam ser combatidos com Educação.
É fundamental desconstruir a falácia de que as inundações corriqueiras que ocorrem no Brasil são desastres naturais. Desastres socioambientais – como inundações, deslizamentos de terra, secas, incêndios florestais e ondas de calor – estão ocorrendo com maior frequência e intensidade. No Brasil, quase 900 mil pessoas foram atingidas por desastres em 2022 e aproximadamente 2.500 escolas estão localizadas em áreas de risco, em todas as regiões do país! Torna-se urgente a criação de uma cultura de prevenção de riscos de desastres socioambientais e a educação é estratégica na transformação desses cenários de riscos.
O refrão da música – “Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza” – ecoa em nosso inconsciente coletivo e traz uma falsa sensação de segurança brasileira contra as intempéries da natureza. Ainda permanece a crença de que o Brasil desfruta dessa “imunidade” em relação aos desastres, por estar isento de eventos relacionados ao vulcanismo, grandes terremotos e tsunami. Mas, na vida real, a banda toca outra música.
Patricia Mie Matsuo – Doutora em Ensino de Ciências, Universidade de São Paulo (USP)
Os desastres socioambientais são uma construção social, formada a partir da combinação complexa de elementos naturais, como a chuva, e um sistema de fatores geradores de riscos, como as desigualdades sociais, falta de políticas públicas habitacionais, econômicas e educacionais. Esse entendimento é essencial para a criação e fortalecimento de uma cultura de prevenção e redução de riscos.
Escolas públicas como agentes de prevenção
Será que as escolas abordam esses tipos de desastres nos espaços de ensino? Quais os desafios ao tratar deste tema tão complexo?
Neste contexto, o primeiro ponto a ser destacado é o reconhecimento e valorização das escolas – de todos os níveis, em 20 estados e no Distrito Federal – como agentes na construção de conhecimentos sobre os desastres. Quase 90 variedades de atividades educativas foram desenvolvidas, das mais tradicionais (como palestras) às mais investigativas, como mapeamento das áreas de risco, criação de sistemas de alerta e principalmente a construção de equipamentos para medir a quantidade de chuva que cai em uma determinada região, chamados de pluviômetros.
As escolas públicas desenvolveram 97% dessas práticas, o que ressalta a potência dessas comunidades escolares – com professoras e professores que, mesmo com as dificuldades estruturais do sistema educativo, criaram práticas sobre prevenção e redução de riscos de desastres – e a necessidade de integração de todo esse aprendizado nos planos de gestão dos riscos de desastres no Brasil.
Os pluviômetros instalados, por exemplo, foram utilizados em contextos variados, seja apenas com o propósito de possibilitar o contato direto com esses equipamentos, ou para permitir o monitoramento das chuvas e o compartilhamento dos dados com a Defesa Civil ou universidades.
Os primeiros passos já foram dados em alguns estados e espera-se que os resultados inspirem o desenvolvimento de iniciativas e políticas públicas pautadas na participação social, na equidade e na redução das desigualdades sociais e que fortaleçam a formação de estudantes protegidos e preparados para esses eventos, que se intensificam com a emergência climática.
Fonte: Um Só Planeta