Você gosta de leite? E de lixo?
Você gosta de leite? Em sua casa se consome leite? Você faz a destinação correta das embalagens de leite? Pouco importa!
Veja este post baseado no depoimento de Carolina Tarrio:
“Sempre gostei de leite. Separo meus resíduos e os encaminho para reciclagem.
Ao separar o lixo, fui percebendo o volume que as garrafas plásticas de leite geravam. Por ser um consumo diário, elas representavam a maior quantidade em nosso lixo reciclável.
Há pelo menos dez anos, comecei a telefonar para o SAC do fabricante e tentar mudar essa situação.
– “Nossas garrafas são recicláveis”, disseram.
Então, por que vocês não as recolhem, reciclam e voltam a embalar o leite?, perguntava.
– “Por se tratar de produtos alimentícios, estamos proibidos por lei de utilizar material reciclado para embalar o produto”, responderam.
Propus, então, que adotassem embalagens de vidro, um material menos nocivo ao meio ambiente.
– “Isso implicaria em mudanças em nossa planta e grandes investimentos”.
No ano passado, cansei! Me dei conta de que dez anos são mais que suficientes para uma empresa planejar e implementar mudanças.
Ao pesquisar sobre reciclagem no Brasil, descobri que, segundo dados oficiais do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), órgão ligado ao Ministério das Cidades, apenas 5,7% do material reciclável é deveras reciclado. Ou seja: uma grande parte das garrafas que consumimos acaba em aterros, rios, mar, no meio ambiente. Fiquei ainda mais incomodada.
Decidi, com um grupo de amigas, tomar uma atitude. Resolvemos juntar as embalagens.
Fiz um cálculo, modesto, de que uma família de 4 pessoas consumiria perto de 1 litro por dia, ou seja, 30 por mês, o que significava 365 garrafas ao ano. E nos colocamos como meta chegar a essa quantidade. Em seis pessoas, juntamos perto de 400 garrafas em apenas 2 meses.
Decidimos separar 365 garrafas e fazer uma foto da minha família com elas, que é a que ilustra este post. A sensação é que iriamos ser soterrados em plástico. E se tratava de apenas um ano de consumo! De uma única família!
E, o pior, segundo SNIS daquelas 365 garrafas, apenas 21 seriam de fato recicladas (5,7%). As outras 344 iriam parar na natureza. Um completo descalabro!
Resolvemos entregar as garrafas vazias na empresa.
O programa Repórter Eco, da TV Cultura, e a TV Globo se interessaram pela pauta e nos acompanharam também.
O Diretor Comercial, foi ouvido pela Mara Gama, colunista do UOL, que escreveu reportagem sobre o assunto – Grupo de consumidores entrega garrafas usadas para produtores -, logo naquela tarde. Ele disse que a empresa “fazia sua parte”, mas se negou a detalhar que parte seria. Mara procurou, ainda, o Sindicato das Indústrias de Laticínios e descobriu que o setor não assinou o acordo setorial das embalagens, firmado por vários setores em fevereiro de 2016, que regula a reciclagem de recipientes plásticos, de papel e latas de alumínio e estabelece as responsabilidades em relação à coleta e ao tratamento dos resíduos.
Quando essas informações foram publicadas, no dia seguinte à nossa entrega das garrafas, o post que fizemos no Facebook, contando sobre a entrega, já tinha centenas de compartilhamentos e mais de mil curtidas. Uma repercussão que não esperávamos.
Descobrimos, então, que havia muito mais gente preocupada com o destino de suas embalagens de leite.
Vendo tal força, surgiu a ideia de juntar todo esse pessoal e tentar forçar o setor a assinar o acordo e se responsabilizar pela logística reversa, algo que está previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos, que já tem sete anos.
Para dar andamento a essa ação, criamos uma página no Facebook – Gostamos de leite, de lixo, não! – e estamos nos organizando para juntar embalagens de todo tipo de laticínios e levar ao Sindileite, junto com um abaixo assinado eletrônico, pedindo a adequação do setor. Quem sabe assim eles entendem que seus consumidores estão preocupados com a situação e querem mudanças…
Se os fabricantes de laticínios não se sensibilizam, e se o poder público não fiscaliza nem pune, resta a nós, consumidores, fazermos a nossa parte.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê que indústrias, distribuidores, poder público e consumidores sejam solidários na reciclagem. Estamos fazendo coleta e pressão. Não vejo outra saída. A grande vantagem é que agora sei que não estou sozinha.”
Fonte: Conexão Planeta