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Greenwashing – o engodo

Como descobrir se uma empresa está tentando enganar você.

Manter a atenção e ter sempre um pé atrás com alegações pouco precisas e/ou suspeitas parece ser a dica mais importante para não acabar comprando gato por lebre. Traduzido para o português às vezes como “maquiagem verde”, o greenwashing é uma série de estratégias adotadas por empresas para tentar construir uma imagem favorável para seus produtos e serviços alegando que fazem mais pelo meio ambiente do que realmente fazem – muitas vezes com o objetivo consciente de desviar a atenção dos consumidores de práticas nem sempre virtuosas.

É mais do que propaganda enganosa. Porque não sou só eu, como consumidor, que está sendo lesado. São todos os habitantes da Terra. Mesmo sem querer, eu acabo financiando empresas que estão prejudicando o planeta.

Marcos Felipe Falcão, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Consumidores estão mais exigentes

A tentação de usar posturas ambientais fingidas como argumento de vendas está ficando cada vez maior. O Instituto Akatu vem coletando informações sobre o peso das questões socioambientais para os consumidores brasileiros por meio da pesquisa Vida Saudável e Sustentável. De acordo com a edição de 2021, mais de 86% dos brasileiros querem reduzir seu impacto ambiental pessoal – mais do que a média global, de 73% – e 60% estão dispostos a pagar mais por produtos de marcas que trabalham para melhorar a sociedade e o meio ambiente, comprometidas com ações socioambientais.

Problema vem aumentando

Mais consumidores e preços maiores. Não chega a surpreender, portanto, que um número expressivo de empresas cedam à tentação de “maquiar” seus produtos.

Segundo o relatório “Mentira Verde”, um levantamento avaliou 509 produtos dos segmentos de higiene e cosméticos, limpeza e utilidades domésticas, vendidos em supermercados do Rio e São Paulo, cujos rótulos tinham pelo menos uma alegação socioambiental. Praticamente metade deles (48%) praticavam alguma forma de greenwashing – na categoria utilidades domésticas, o problema era mais prevalente, sendo encontrado em três de cada quatro produtos pesquisados.

O problema é mundial. No começo do ano passado a Comissão Europeia conduziu uma varredura em websites de empresas de diversos ramos para analisar alegações ambientais desses negócios. Em 42% dos casos, as informações foram consideradas, exageradas, falsas ou enganosas.

O problema mais frequente é a falta de comprovação das alegações feitas nos rótulos dos produtos. Sem isso, acaba sendo muito mais uma alegação mercadológica do que uma garantia de que seus produtos são sustentáveis.

Lista ajuda a identificar o greenwashing

Embora o Código de Defesa do Consumidor proíba a propaganda enganosa, ele é genérico. Precisamos de uma legislação específica sobre alegações ambientais. A falta uma orientação mais clara do que as empresas podem e do que elas não podem fazer.

A consultoria canadense TerraChoice/UL Solutions elaborou uma lista dos “Sete Pecados do Greenwashing”, criando uma tipologia das principais práticas de greenwashing. A lista se tornou uma espécie de referência informal para quem se interessa pelo assunto e ajuda a identificar melhor práticas problemáticas:

1 – Custo camuflado: quando se sugere que um produto seja “verde” com base num conjunto restrito de atributos, sem levar em conta outras questões igualmente ou até mais relevantes.

Exemplo: Fabricantes de papel ressaltam que seu produto vem de florestas plantadas, mas não mencionam sobre o uso de químicos agressivos no processo de branqueamento.

2 – Falta de prova: é cometido quando uma empresa não oferece provas facilmente acessíveis para dar suporte às suas alegações ambientais.

Exemplo: Vários produtos alegam ter material reciclado em sua composição sem fornecer evidências.

3 – Imprecisão: acontece quando uma declaração ambiental é mal definida ou vaga a ponto que seu real significado não ficar claro para os consumidores.

Exemplo: Produtos que alegam serem “naturais” ou “verdes” sem explicar o que querem dizer com isso.

4 – Irrelevância: é a falta cometida por empresas que fazem alegações ambientais que não têm qualquer importância por já serem práticas obrigatórias ou comuns.

Exemplo: Desodorantes ou aerossóis que se declaram “livres de CFCs” mesmo com o uso de CFCs sendo proibido há vários anos.

5 – Menor de dois males: quando um exemplar particular de uma categoria de produtos intrinsecamente insustentáveis é enquadrado como “menos nocivo”.

Exemplo: Veículos utilitários esportivos (SUVs) que anunciam ser menos “beberrões” que outros carros dessa classe.

6 – Mentira: quando uma alegação ambiental é simplesmente inventada.

Exemplo: Fabricantes de carros envolvidos no “dieselgate”.

7 – Culto a falsos rótulos: surge quando o rótulo de um produto inclui palavras ou imagens que dão a impressão de que ele conta com certificações que não possui de fato.

Exemplos: Empresas que declaram não fazer testes com animais e incluem imagens parecidas com os selos de certificadoras.

Fique atento e tenha um pé atrás

Manter a atenção com alegações pouco precisas e/ou suspeitas parece ser a dica mais importante para não acabar comprando gato por lebre. Uma dose de ceticismo é a principal recomendação. Desconfiar especialmente do uso de linguagem pouco clara e de bordões.

Atentar à presença de certificações reconhecidas na hora de comprar e pesquisar sempre que se deparar com um selo pouco familiar no rótulo de algum produto. Outro caminho para tentar evitar o greenwashing é acionar os canais dos serviços de atendimento ao consumidor dos fabricantes sempre que se deparar com um produto com alegações difíceis de comprovar. Em tempos de ESG é uma forma de pressionar as empresas a melhorarem sua transparência.

Compete a nós, consumidores, agir para o o nosso próprio interesse independentemente da burocracia das leis.

Fonte: Um Só Planeta