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Desigualdade social é maior responsável por crise hídrica em grandes cidades

Enquanto famílias de elite utilizam grande parte da água para lazer, grupos de baixa renda não tem acesso à água para disfrutar do básico, como beber e tomar banho.

Nas últimas duas décadas, inúmeras cidades metropolitanas em todo o mundo enfrentaram escassez severa de água devido às secas e ao uso insustentável da água. As projeções futuras são ainda mais preocupantes, pois agora, além das mudanças climáticas e do crescimento das populações urbanas, a crescente desigualdade social também é um fator para que as crises hídricas se agravem.

Mais de 80 grandes cidades em todo o mundo sofreram com a escassez de água nos últimos 20 anos, nossas projeções mostram que a situação pode piorar à medida que a distância entre ricos e pobres aumenta em muitas partes do mundo. Isso mostra os vínculos estreitos entre a desigualdade social, econômica e ambiental. Todos sofrerão as consequências, a menos que desenvolvamos formas mais justas de compartilhar a água nas cidades.

Hannah Cloke, hidróloga da Universidade de Reading
Distribuição desigual

As mudanças climáticas, na maioria das vezes, são consideradas a força que compromete a disponibilidade dos recursos hídricos. Porém, essas análises falham em reconhecer como o poder social e a heterogeneidade na sociedade moldam a forma como as crises hídricas urbanas se desenrolam e quem é vulnerável a elas.

Um estudo para analisar o uso doméstico de água de residentes urbanos foi feito na Cidade do Cabo, África do Sul. No entanto, tais resultados também mostram questões semelhantes em 80 cidades em todo o mundo, incluindo Londres, Miami, Barcelona, Tóquio, Istambul, Cairo, Sydney, São Paulo, Cidade do México e Roma.

Neste estudo, os pesquisadores identificaram cinco grupos sociais, que vão desde a “elite” (pessoas que moram em casas espaçosas com grandes jardins e piscinas) até os “moradores informais” (pessoas que costumam morar em barracos na periferia da cidade).

Famílias de elite e de renda média alta representam menos de 14% da população da Cidade do Cabo, mas usam mais da metade (51%) da água consumida por toda a cidade. Famílias informais e de baixa renda respondem por 62% da população da cidade, mas consomem apenas 27% da água do município.

Atualmente, os pesquisadores destacam que os esforços para gerenciar o abastecimento de água em cidades com escassez de água se concentram principalmente em soluções técnicas, como o desenvolvimento de infraestrutura hídrica mais eficiente. Contudo, a pesquisa indica que essa estratégia não é tão boa e sugere uma abordagem mais proativa, destinada a reduzir o consumo insustentável de água entre as elites.

Fonte: Um Só Planeta