Políticas públicas e a neurociência

Qual mensagem teria um melhor apelo: “economize água” ou “todos os seus vizinhos estão economizando”?

Demonstrar como toda a sociedade já vem economizando água tem um resultado mais efetivo que apenas pedir que as pessoas deixem de desperdiçar. Essa é a opinião de Matheus Milan, professor e neurocientista, que reúne uma série de exemplos, artigos e pesquisas científicas sobre a atuação do cérebro nas decisões humanas, para demonstrar como este conhecimento pode ser aplicado por gestores na elaboração de políticas públicas. Melhorar a comunicação permite melhores resultados em campanhas educativas.

“O estudo do cérebro, por meio da neurociência, pode ter mais influência na construção de políticas do que se imagina. O papel do agente público é articular estas ideias para que, em conjunto, possamos viver em sociedade”.

Outro exemplo citado por Milan: a questão do ensino escolar. De acordo com seus estudos, políticas públicas que só focam a mensagem no valor da educação podem ser ineficientes. “Deve-se mostrar que disciplina, esforço e persistência são mais importantes”, explicou. Em outra pesquisa, o professor demonstrou que incentivos que destacam as perdas podem gerar mais resultados que as que promovem ganhos.

Com os conhecimentos do cérebro, da mente e do comportamento humano, os agentes públicos possuem a oportunidade de aplicar as informações práticas das neurociências, psicologia e economia comportamental na arquitetura das políticas e, assim, transformar essas oportunidades em intervenções governamentais mais efetivas e eficientes.

Neste sentido, campanhas públicas podem ter muito mais resultado se focadas nas perdas que podem acontecer se determinado comportamento não for adotado, que é a questão da economia de água. Demonstrar como toda a sociedade já tem economizado água tem um resultado mais efetivo que apenas pedir que as pessoas deixem de desperdiçar.

Matheus Milan é especialista em Neurociência e Psicologia aplicada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. É membro pesquisador do Laboratório Interdisciplinar de Neurociências Clínicas da Escola Paulista de Medicina (EPM – UNIFESP) e coordenador da primeira pós-graduação no Brasil em “Neurociência aplicada ao Direito e Comportamento Humano”, da Escola da Magistratura Federal do Paraná (ESMAFE – PR). Também é professor convidado da Pós-Graduação em Neuropsicologia, na Universidade Municipal de São Caetano do Sul e UNIFAE, além de mestre em Administração com ênfase em Neuromarketing pela Florida Christian University (Orlando/EUA – 2016).

Fonte: Rádio Maringá