Vida comunitária pós-pandemia

O ser humano é um animal social por natureza e a maior parte da população mundial vive em áreas urbanas, será que dá para reestruturar nossas vidas?

Mas, o ser humano é também ignorante, preguiçoso e acomodado. Claro que nem eu e nem você somos! São os outros, que não fazem nada e nos deixaram chegar a esse ponto. Agora, sem ironia, falando sério: a limitação à liberdade de ir e vir e socializar que a pandemia provocou, nos trouxe uma oportunidade única de reflexão sobre o modo como vivemos e da necessidade urgente de reduzir os impactos que provocamos ao meio ambiente. 

Procurar entender os impactos e tendências pós-Covid-19 com foco em cidades, planejamento urbano e territorial, mobilidade e arquitetura.

Avaliar o que faremos quando voltarmos a sair de casa e como se dará o uso dos equipamentos e espaços públicos, valorizar os espaços livres, tais como parques e praças e locais adequados ao pedestre.

Entretanto, nossas cidades não estão preparadas para atender à essa demanda. A exemplo do Parque Ibirapuera em São Paulo, cada região precisará ter o seu. Áreas verdes com qualidade e em quantidade adequadas.

Há varias soluções possíveis, como a criação de mais parques equipados e Pocket Parks. Os primeiros são aqueles associados a equipamentos de interesse público, sejam eles escolas, mercados, bibliotecas que possam estender suas atividades ao espaço livre, concentrando também investimentos públicos de forma integrada.

os Pocket, ou “parques de bolso”, podem ser espalhados de forma mais pulverizada nos vazios urbanos e também integrados a empreendimentos imobiliários. Não faz sentido que as áreas verdes que os empreendimentos devem reservar sejam totalmente fechadas às cidades e de uso exclusivo de condomínios.

Fazer as pessoas voltarem à escala humana do pedestre, pode fomentar cidades policêntricas, com menos deslocamentos e mobilidade ativa, o que incentivará, também, o desenvolvimento do comércio dos bairros e, consequentemente, gerará mais empregos próximos de onde vivemos, constituindo um ciclo virtuoso. Hoje, a título de exemplo, Cidade Tiradentes no extremo da zona leste de São Paulo, possui 246 vezes menos oportunidades de emprego do que o distrito da Barra Funda, localizado na zona oeste da cidade. É preciso reequilibrar essa distribuição.

É preciso introduzir um novo modelo de comércio mais associado ao espaço público e integrado ao entorno urbano, que preserve o verde e os elementos naturais, criando espaços mais fluídos e sustentáveis. A própria necessidade de consumo está sendo revista. Temos observado quanto lixo consumimos e aprendido como aproveitar melhor o que já possuímos.

Os argumentos acima podem parecer supérfluos para os mais de 11 milhões de brasileiros que vivem em condições precárias, e, nesse momento, garantir habitação em condições de conforto, segurança e salubridade para todos adquire um caráter de emergência ainda maior. Corremos risco de passarmos por grandes tragédias sociais se não dermos moradia adequada à população sem teto e aos moradores de favelas e palafitas ainda tão presentes nas cidades brasileiras.

Voltando a uma visão geral do momento, as tendências pós-pandemia apontam para uma oportunidade de desacelerarmos os impactos do homem sobre o planeta, e indicam que já temos parte dessas soluções, mas nunca tivemos coragem de implantá-las de fato. Elas vão desde repensar nosso modelo de ocupação do território ao tipo de comida que colocamos em nossos pratos, lembrando que este último aspecto é apontado como provável causador do Covid-19 em seres humanos. 

A pandemia é resultado do excesso de pressões que exercemos sobre o ecossistema. É a oportunidade de desacelerarmos os impactos do homem sobre o planeta e que nunca tivemos coragem de implantá-las de fato. Se não mudarmos, outras virão com maior impacto. Repensar a relação do homem com a natureza é a solução para o retorno à vida em comunidade.

Fonte: Pedro Lira / Archdaily